O resultado líquido anual da Galp Energia em IFRS situou-se em 2008, nos 117 milhões de euros, ou seja uma quebra de 83,8% face a 2007 que se explica essencialmente pelos efeitos contabilísticos da desvalorização dos stocks.
O resultado líquido a custo de substituição ajustado, que exclui o efeito de stock, atingiu em 2008 os 478 milhões de euros, o que representa um aumento de 14,2% face ao ano anterior.
Apesar do Brent ter atingido valores recorde a meio do ano passado, a verdade é que, no conjunto de 2008, o preço de cada barril do crude de referência para a Europa caiu para 36,5 dólares no final do ano, ou seja, 62%. No ano anterior, o barril do Brent valorizara 37,1 dólares, ou 63%. O impacto do efeito de stock ao nível do resultado líquido em IFRS foi negativo em 355 milhões de euros, o que compara com um ganho de 280 milhões em 2007.
O resultado líquido a custo de substituição ajustado, que exclui o efeito de stock, atingiu em 2008 os 478 milhões de euros, o que representa um aumento de 14,2% face ao ano anterior. Em termos operacionais, este aumento situou-se nos 11,8%, com a melhoria do desempenho do segmento de negócio Refinação & Distribuição a compensar a evolução desfavorável dos resultados dos segmentos de Gas & Power e Exploração & Produção. O agravamento dos resultados financeiros ficou a dever-se aos aumentos das taxas de juro e da dívida e ao menor contributo dos resultados de empresas associadas.
Exploração & Produção
A produção numa base working interest atingiu os 15,1 mil barris por dia em 2008, menos 11,5% do que no período homólogo, devido a dificuldades operacionais no campo Benguela-Beliza-Lobito-Tomboco (BBLT) no final de 2007 e início de 2008. Este campo registou uma produção diária de 12 mil barris em 2008, continuando a ser o que mais peso representa no total da produção, cerca de 79,3%.
A produção net entitlement, em 2008, registou um decréscimo anual de cerca de 20,1%, superior ao da produção working interest. A subida do preço do crude, nomeadamente do Brent que aumentou 33,7%, originou uma diminuição das taxas de produção disponíveis. O campo BBLT, com 3.094 mil barris, representou 84,7% da produção total em termos net entitlement. Já o campo Tombua-Lândana (TL), que deverá iniciar a produção em grande escala no final de 2009, apresentou um aumento de produção de 62,1% para os 199 mil barris.
O resultado operacional, a custo de substituição ajustado, do segmento de Exploração & Produção (E&P) foi de 141 milhões de euros, uma diminuição de 6,0% face a 2007, representando este segmento de negócio 20,3% dos resultados operacionais a custo de substituição ajustados da Galp Energia. O aumento de 38,5% no preço médio de venda foi neutralizado pela redução na produção net entitlement de 20,1%, pelo aumento dos custos de produção, agravados pelos problemas operacionais registados no campo BBLT, e também pelo aumento das amortizações.
Reservas e recursos contingentes
De acordo com o relatório da Degolyer Macnaughton (“Demac”), no final de Dezembro de 2008, as reservas provadas e prováveis da Galp Energia, no Bloco 14, eram de 28 milhões de barris, face a 31 milhões de barris a 31 de Dezembro de 2007. Este decréscimo nas reservas, ao abrigo dos contratos de partilha de produção, bem como nos volumes produzidos ao longo do ano, deve-se à variação do preço de referência do crude para cálculo das reservas, numa base net entitlement, em 2007 e 2008, de 72,3 Usd/bbl para 97 Usd/bbl.
Ainda de acordo com este relatório, os recursos contingentes da Galp Energia eram de 2.113 milhões de barris - face aos 742 milhões de barris no final de 2007 - dos quais 206 milhões de barris correspondiam a recursos em Angola e os restantes 1.907 milhões de barris ao Brasil, maioritariamente ao offshore da Bacia de Santos.
Refinação & Distribuição de Produtos Petrolíferos
Em 2008, as refinarias da Galp Energia processaram 13,1 milhões de toneladas de matérias-primas, ou seja menos 5,1% que em igual período do ano transacto, em resultado da paragem programada para manutenção na refinaria de Sines, que se iniciou a 10 de Setembro. O crude representou 92% do total das matérias-primas processadas, aumentando assim o seu peso relativo face ao período homólogo, que era de 89,5%. A diminuição da actividade de refinação traduziu-se na redução da taxa de utilização das refinarias, que em 2007 atingira os 81,3%, para os 79,2%.
Em termos unitários a margem de refinação da Galp Energia diminuiu 19,2% para os 4,4 Usd/bbl, sendo a variação em euros menos elevada, com uma redução de 24,7% para os 3 Eur/bbl, influenciada pela depreciação do dólar americano face ao euro. A margem de refinação foi também penalizada pelos consumos e quebras, que representam cerca de 8,2% da matéria-prima tratada, em linha com o verificado no mesmo período do ano anterior, mas superior em valor, ou seja em termos de custos de energia, dado o aumento do preço do crude, entre os dois períodos em análise, de cerca de 33,7%.
As vendas totalizaram 16 milhões de toneladas, um aumento de 0,5% em comparação com 2007. Este aumento deve-se à inclusão das vendas relativas às actividades de distribuição de produtos petrolíferos das filiais Ibéricas da Agip, no quarto trimestre de 2008, no total das vendas de produtos refinados, o que permitiu compensar a quebra registada no mercado ibérico.
As exportações aumentaram 4,1% face a 2007, com o fuelóleo a registar uma aumento de 19%, devido à retracção da procura no mercado nacional e ao aproveitamento de oportunidades de exportação para o norte da Europa, com cracks 1 mais favoráveis e a exportação de nafta química para o Reino Unido e a Holanda. Em 2008, o fuelóleo foi o produto mais exportado pela Galp Energia, com 33,6% , seguidos das gasolinas, 30,5% e dos químicos, que representaram 11,6% do total.
As gasolinas apresentaram um desempenho contrário, um decréscimo de 27,2%. Este decréscimo deve-se à diminuição na produção em resultado da paragem da refinaria de Sines e aos efeitos da crise económica na retracção do consumo no mercado norte-americano, principal destino de exportação deste produto. Aqui, verificou-se igualmente uma recuperação da capacidade da oferta, com o restabelecimento da capacidade de refinação afectada em 2007 pelo furacão Dean.
Em 2008, a cobertura da actividade de refinação pela actividade de distribuição de produtos petrolíferos, medida com base na média da produção dos últimos três anos, foi de 75,2%, 3,6 p.p. acima do registado no ano de 2007.
As vendas a clientes directos aumentaram 2,5% em resultado da incorporação nesta rúbrica das vendas de produtos petrolíferos das filiais Ibéricas da Agip, que acrescentaram um volume de cerca de 0,6 milhões de toneladas.
No final de 2008 a Galp Energia tinha 1.509 estações de serviço, mais 471 que no final de 2007 e mais 494 que no final de Setembro, em resultado da conclusão das aquisições das redes Ibéricas tanto da Agip como da ExxonMobil. Com a conclusão destas duas aquisições, a Galp Energia detém mais 497 postos de abastecimento na Península Ibérica, sendo a sua rede em Espanha constituída por um total de 630 postos de abastecimento.
Em 2008, a Galp Energia inaugurou 35 novas lojas non-fuel, das quais uma em Espanha. Esta evolução positiva do número de lojas non-fuel resulta da aposta da empresa na expansão do negócio da conveniência, que permite uma melhor rentabilização os activos da distribuição. Com as novas aquisições, sobe para 428 o número de lojas de conveniência da Galp Energia na Península Ibérica.
Em termos ajustados, o resultado operacional aumentou 112 milhões de euros face ao período homólogo, o que representa um acréscimo de 43,2%, em termos relativos. O valor acumulado do efeito de time lag no ano de 2008 foi positivo em 78 milhões de euros e no período homólogo de 2007 foi negativo em 67,4 milhões de euros, uma vez que o preço dos produtos nos mercados internacionais, desceu mais em termos absolutos em 2008 do que subiu em 2007. Este efeito permitiu compensar a diminuição na margem de refinação da Galp Energia, que seguiu a tendência das margens de refinação internacionais e sofreu o impacto da paragem programada para manutenção da refinaria de Sines.
Gas & Power
Em 2008, as vendas de gás natural aumentaram 4,8% para os 5.638 milhões de metros cúbicos, com o mercado liberalizado a representar 57,1% do total. Este aumento traduz os maiores volumes comercializados no sector eléctrico, que cresceu 16,5%. O consumo de gás natural para produção eléctrica em Portugal foi, uma vez mais, impulsionado pela fraca pluviosidade, reduzindo a produção hidráulica em 32%, e pela diminuição da produção de energia eléctrica através de centrais a carvão (-11%) e fuelóleo (-37%), devido ao aumento do preço destes produtos nos mercados internacionais em 2008.
As vendas de gás natural ao sector industrial em Espanha, iniciadas em Janeiro de 2008, atingiram um volume de 114 milhões de metros cúbicos.
A actividade de trading apresentou uma quebra de 21% nos volumes transaccionados, o que se deveu a um aumento da procura de gás natural em Portugal que limitou a disponibilidade de gás para a actividade de trading. Por outro lado, o facto de 2007 ter sido um ano anormalmente seco em Espanha levou a uma elevada procura de gás natural para produção de electricidade nesse ano que não se voltou a verificar em 2008.
O volume de gás natural transportado nas redes das empresas de distribuição atingiu os 1,5 mil milhões de metros cúbicos.
A produção de energia eléctrica diminuiu 3,9% em 2008, em relação ao ano anterior, para 1.548 GWh. As centrais de cogeração da Galp Energia utilizaram um total de 161 milhões de metros cúbicos de gás natural, representando 8,6% do mercado industrial português. As vendas de electricidade à rede registaram uma diminuição de 17,3% devido a paragens para manutenção nas centrais de cogeração da Carriço e da Energin.
A Galp Energia vendeu cerca de 36 GWh no mercado português, directamente à pool, desde Abril de 2008, utilizando a capacidade virtual de produção de electricidade que adquiriu nos leilões do OMIP.
Em 2008, o resultado operacional a custo de substituição ajustado atingiu 176 milhões de euros, 18,1% abaixo do verificado em igual período de 2007. O aumento das quantidades vendidas, bem como o aumento do preço do gás natural no mercado internacional, não foram suficientes para compensar o impacto da renegociação dos contratos de aquisição de gás natural. Desta revisão resultou um impacto negativo de 103 milhões de euros em resultado de um processo de arbitragem.
Investimento
Em 2008, o investimento aumentou em mais de mil milhões de euros, totalizando 1.560 milhões de euros, ou seja, mais do triplo do valor aplicado em 2007. Cerca de 196 milhões de euros foram canalizados para a Exploração & Produção, nomeadamente para os trabalhos no Bloco 14, em Angola, bem como na avaliação da descoberta no Lucapa. No que respeita ao Brasil, as actividades de exploração no offshore totalizaram 27 milhões de euros e incluíram a perfuração dos poços Júpiter, Bem-te-vi e Iara e ainda a preparação do teste de longa duração a realizar no campo Tupi a partir do segundo trimestre de 2009. Ainda no Brasil, foram investidos 10 milhões de euros numa nova rodada de licitações e outros 18 milhões de euros em actividades de exploração no onshore, bacias de Potiguar e Espírito Santo. Aqui, foram efectuados 21 poços de exploração que originaram 9 descobertas.
Para as actividades de exploração em Moçambique, Timor Leste e Portugal, que contemplaram a aquisição sísmica 2D e 3D para posterior interpretação, foi canalizado um total de 14 milhões de euros.
O grosso do investimento destinou-se à actividade de Refinação & Distribuição, num total de 1.245 milhões de euros, mais 1.076 milhões de euros que no período homólogo e cerca de 80% do investimento total de 2008. O investimento neste segmento de negócio foi destinado maioritariamente à aquisição do negócio Ibérico de distribuição de produtos petrolíferos da Agip e da ExxonMobil, num montante de 752 milhões de euros, e ao projecto de conversão da refinaria de Sines, com o início de aquisição dos equipamentos principais entretanto adjudicados, nomeadamente os reactores para o hydrocraker, a paragem programada para manutenção e a concessão do terminal de granéis líquidos do porto de Sines.
No segmento de negócio Gas & Power, o investimento ascendeu a 116 milhões de euros e foi canalizado para o prolongamento da rede secundária de distribuição de gás natural numa extensão de cerca de 704 quilómetros e para a ligação de 52 mil clientes de gás natural, novos e convertidos. No segmento Power foram realizados investimentos finais na central de cogeração instalada na refinaria de Sines, cujo início de operação está previsto para o primeiro trimestre de 2009 e na central do Porto, cujo contrato de EPC1 foi assinado em Dezembro.
Capitalização bolsista
No ano de 2008 as acções da Galp Energia tiveram uma performance negativa de 61%, acompanhando a evolução negativa dos principais índices onde a Galp Energia se insere, o índice PSI20 e o índice SXEP. Desde a Oferta Pública Inicial até ao final do ano de 2008, a performance da acção da Galp Energia foi positiva em 24%. A cotação máxima da Galp Energia neste período foi de 18,95 euros, no dia 2 de Janeiro, enquanto a cotação mínima foi de 5,95 euros no dia 27 de Outubro. No período em análise, foram transaccionadas 643,6 milhões de acções, um aumento de 83% face ao ano de 2007, a que corresponde uma média diária de 2,5 milhões de acções transaccionadas. A 31 de Dezembro, a capitalização bolsista era de 5.954 milhões de euros.
Bases de apresentação da informação
As demonstrações financeiras consolidadas e não auditadas da Galp Energia relativas aos doze meses findos em 31 de Dezembro de 2008 e 2007 foram elaboradas em conformidade com as IFRS. A informação financeira referente à demonstração de resultados consolidados é apresentada para os trimestres findos em 31 de Dezembro de 2008 e em 31 de Dezembro de 2007 e para os doze meses findos nestas datas. A informação financeira referente ao balanço consolidado é apresentada às datas de 31 de Dezembro de 2008, 30 de Setembro de 2008 e 31 de Dezembro de 2007.
As demonstrações financeiras da Galp Energia são elaboradas de acordo com as IFRS, e, desde 1 de Novembro de 2008, que o custo das mercadorias vendidas e matérias-primas consumidas é valorizado ao custo médio ponderado (CMP). A utilização deste critério de valorização pode originar elevada volatilidade nos resultados em momentos de grande oscilação dos preços das mercadorias e das matérias-primas, através de ganhos ou perdas em stocks, sem que tal traduza o desempenho operacional da empresa. Neste documento, designamos este efeito por efeito stock.
Outro factor que pode afectar os resultados da empresa sem ser um indicador do seu verdadeiro desempenho é o conjunto de eventos de natureza não recorrente, tais como ganhos ou perdas na alienação de activos, imparidades ou reposições de imobilizado e provisões ambientais ou de reestruturação.
Com o objectivo de avaliar o desempenho operacional do negócio da Galp Energia, os resultados operacionais e os resultados líquidos a custos de substituição ajustados excluem eventos não recorrentes e o efeito stock por terem sido apurados através do método do custo de substituição, ou replacement cost.